domingo, 8 de julho de 2012


Projeto Horta Educativa CEC-TAPERA
                            
                      
                            Historicamente, a evolução antropológica que proporcionou a passagem do estado nômade e coletor para a sedentária (fixa em um local propício para o desenvolvimento da agricultura), está diretamente vinculada à observação e domínio das sementes, ao conhecimento das estações e à manutenção de espécies botânicas para alimentação e uso fitoterápico.  Muitos estudiosos inclusive defendem por inúmeros registros arqueológicos, que essas atividades estão associadas à  mulher, que por estarem  na divisão do trabalho social, mais tempo fixas em um local, enquanto os homens saiam à caça, tiveram a sensibilidade de compreender o geminar e a manutenção das espécies, com aprimoramentos que possibilitaram a inclusão de novos alimentos  no banquete onívoro do ser humano. Nasce a agricultura coletiva.
                               Milênios se passaram e a agricultura se manteve no seu princípio, a geminação, pois este mecanismo de ordem biológica o ser homem não possui o poder de intervir; porém associada a novos modos de produção, aos avanços científicos tecnológicos e a uma demanda crescente de alimentos, chegamos as chamadas revoluções agrícolas, as grandes escalas de produção, às monoculturas, aos danos imensos de ecossistemas, aos fertilizantes, agrotóxicos e transgênicos. No intuito neoliberal do comércio global, alegando que uma produção mundial excedente poderia acabar com a fome, caso houvesse um esforço de distribuição que não considerasse as diferenças econômicas.
                           Diante de tantas utopias, hoje há uma tendência global que aponta para uma relação cada vez menos conflituosa entre agricultura e meio ambiente, buscam-se por sistemas de produção menos nocivos e por um consumidor mais consciente (quando não está com fome), com demandas de qualidade em processos orgânicos e uma produtividade ética ambiental. Em respostas aos danos causados ao meio ambiente, buscam-se sistemas agrícolas produtivos que potencializem a biodiversidade ecológica sem conseqüências degradantes para a natureza e por conseqüência para a sociedade. Estas pequenas soluções estão distanciadas da população, os produtos agroecológicos e orgânicos ainda são caros e não possuem impacto no modo de produção  que prioriza a monocultura, mas são sementes que germinam em espaços pequenos e se propagam como idéias que contribuem para a preservação dos recursos naturais, observando o desenvolvimento das plantas  e as leis da natureza, consumindo produtos saudáveis como fizeram nossos ancestrais.





Horta CEC-Tapera

                 
                      
                            Se compararmos com a imensidão de espaço que existe ao nosso redor, a horta do cec-tapera é um espaço ínfimo, desprovido de recursos, com pouca visibilidade social e produção insignificante. Mas não é neste espaço real que germinarão as sementes, são nas mentes que se despertam e nas pessoas que se envolvem. Nossos canteiros metafóricos ampliarão nossa horta, neles plantaremos carinho, ética e consciência ecológica.
Objetivos:
- Plantar idéias
- Germinar a educação ambiental, mediante uma aprendizagem ativa e lúdica, conhecimentos teóricos e práticos sobre diversos conteúdos (interdisciplinar).
- Produzir verduras e legumes frescos sem agrotóxicos (agroecologia).
- Regar de conhecimentos e experiências práticas, para que os participantes possam transmitir ás suas famílias e conseqüentemente aplicar em hortas familiares ou comunitárias.
- Observar o crescimento  das plantas e entender que o mesmo acontece com o ser humano, quando pisa em solo fértil de idéias, na luz solar do conhecimento e com água para nutri-lo, tudo é possível.
- Colher e consumir para melhorar a nutrição, prevenir-se para o futuro com alimentos frescos e sem agrotóxicos, quebrando com a cadeia consumista dos monopólios químicos e farmacêuticos. 






Alguns roteiros de conteúdos a serem explorados



1 -      As estações, suas características e relações com as plantas (conhecimento primitivo ou primário).
2 -     Os pontos cardeais, geografia espacial, para entendermos onde o sol iluminará e quais plantas estão      aptas ao local.
3 -   Princípios básicos de como fazer um canteiro, dimensão, diferença entre as sementes e o desenvolvimento (crescimento) das mesmas.
4 -      Nutrientes das plantas, tipo de solo, correção, adubação, compostagem e irrigação.
5 -      Conhecimento das hortaliças, qual sua importância para o organismo, como se faz o seu consumo.
6 -      Analisar o desperdício, entender seu significado e conseqüências, verificar nossa participação.
7 -      O que devemos plantar? como produzir mudas?
8 -      Como fazer a manutenção e conservação da horta?
9 -      Defensivos caseiros, o que é isso?
10 -  Controle de fungos e insetos de forma orgânica?
11 -  A horta como estratégia de mudança na cultura alimentar.
12 -  Compartilhar atividade e colher satisfação.



                                               Conclusão



                           
                          Falar em conclusão seria não entender o processo contínuo que uma horta exige, seria reduzir o fazer a um momento estanque de uma pesquisa quantificada por estatísticas. Confesso que a horta exige a dificuldade e o desafio  dos que a integram enquanto seres humanos e da natureza que a envolve, ou seja, os diversos fenômenos naturais e sociais que possam ocorrer, por exemplo, uma chuva torrencial carregou as sementes recém plantadas, retorna-se a etapa anterior, se analisa o fenômeno e busca-se formas de preveni-lo, pois se constatou empiricamente a existência do mesmo.
                        É preciso falar em processo,  em possibilidades tangíveis e que podem se transformar em outras conforme a articulação (visita da nutricionista), novidade (doação de mudas do vizinho), fato inusitado (um gato que faz as necessidades no local). É preciso falar em processo porque as atividades escolares possuem um calendário e a horta somente as estações, e vejamos com os olhos das plantas, elas não seguem nosso desejo semanal, algumas levam meses para serem colhidas, outras são perenes, outras não sobrevivem apenas pelo nosso desejo, algumas exigem um carinho especial (já dizia a rosa do pequeno príncipe), portanto o grande desafio da horta nunca será a conclusão, mas seu constante processo.
                        Não tenho dados, talvez algum professor o faça um dia, não consigo medir satisfação, não comparo sorrisos, não me interesso pelo fim de algo, gosto apenas de começar. E na horta do cec-tapera percebo os que vem à horta sem chamar, vem porque se sentem úteis, porque tem curiosidade, porque se comprometem com outro ser (plantas são seres), porque adotam um espaço, porque preferem o silêncio. Acredito que estas justificativas já refletem uma conclusão, mas o que há de mais importante ainda não relatei, porque não são mensuráveis por palavras, são os significados plantados com amor, e para isso, as imagens que aqui seguem traduzem o privilégio de estar com vocês. Obrigado CEC-TAPERA.






Luiz Valentin Marcon
Educador Social
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário